Presentar é uma ação que traz prazer para quem pratica a ação e para quem recebe o presente. Presentear uma criança e ver o sorriso, o brilho no olhar e a felicidade em brincar é uma sensação que traz calor ao coração. Por alguns instantes nos lembramos de nossa própria história, revivemos momentos pueris em que éramos nós os privilegiados em receber o carinho e a atenção de um adulto, materializado em um brinquedo.
Geralmente criança não gosta de ganhar roupa como presente. Se a criança tiver uma boa educação agradecerá e sorrirá para você, mas não espere aquele brilho no olhar. Isso, claro, quando pensamos nas crianças da classe média: aquela camada da sociedade que não tem tudo que quer ou precisa, mas que não está exatamente lutando para sobreviver.
Lembro-me de que meu pai costumava me presentar com brinquedos criativos, como blocos de montar, ferramentas, livros interativos, e mais tarde meu primeiro computador. Esses presentes, hoje percebo ao olhar para trás, influenciaram minha maneira de ver o mundo, estimulando minha criatividade e vontade de descobrir e criar. Ou talvez os presentes apenas representassem minha personalidade em formação, que meu pai sabia ler e reconhecer.
Mas o relato de hoje não é sobre mim, mas sobre minha pequena enteada, de sete anos. Semana passada comprei uma boneca Barbie pra ela. Sim, entreguei o presente antes do feriado, apenas como um pequeno gesto de carinho para mostrar que lembrei dela enquanto estava comprando coisas para mim mesmo. Entrei no quarto e ela estava ao computador, jogando. Escondi a boneca atrás das costas e perguntei se ela poderia ganhar presente antes da hora. Ela prontamente disse que sim, porque tinha sido uma boa menina e ajudado a vovó.
Aqui um parêntese: Presente é presente; recompensa é recompensa. Presente não requer merecimento. Também não devemos esperar compensação. Presentear é doar sem esperar nada em troca.
Eu revelei então a bonequinha que estava escondendo. Ela arregalou os olhos e sorriu. Logo pôs-se a rasgar a caixa e tirar os elásticos que prendiam a boneca. Quando saí do quarto ela estava alisando os longos cabelos da boneca e olhando os detalhes da roupinha. Eu sorri com aquele sentimento de plenitude do dever cumprido e voltei para a sala, onde fui assistir TV.
Alguns minutos depois Maitê sai do quarto com a boneca nas mão e pede:
Depois você pode comprar outra? Ela não tem nenhuma amiga com quem brincar.
Fiquei sem reação. Sorri e disse que daríamos um jeito. Naquela noite nossas outras crianças não estavam em casa. Nós adultos já estávamos naquele marasmo de curtir o finzinho do domingo. Ela gostou da boneca? Certamente, mas a falta de companhia para brincar falou mais alto.
Nesse dia das crianças, presenteie com amor e desapego, deixe as recompensas para seus momentos e contextos. Brinque sem objetivos, apenas divirta-se. Viva as experiências. Fortaleça os laços afetivos. Seja feliz! Sempre.
Meu saudoso Pai me dizia que somos crianças por toda a vida…
O que mudam são os brinquedos.