Vício nosso de cada dia

A maioria de nós tem hábitos diários que fazem parte da rotina e nem percebemos. Em especial nos momentos extremos do dia, ao levantar e ao ir deitar, repetimos algumas ações que nos ajudam a começar bem o dia, ou a relaxar ao seu fim. Observar esses hábitos e rotinas nos ajuda a ampliar o conhecimento que temos de nós mesmos, de nosso corpo e de nossas crenças.

Criando rotinas

Geralmente essas rotinas são criadas de forma inconsciente. Nosso cérebro identifica ações e reações que no passado que causaram prazer ou evitaram dor e estabelece padrões, as nossas rotinas. Fazemos algo, temos um retorno prazeroso, fazemos novamente, identificamos um padrão, vira um pequeno “ritual” em nossa rotina.

Da próxima vez que você passar por um desses “rituais”, observe como se sente e como seu corpo reage. A ação que você está executando está gerando prazer ou evitando dor?

Analisando um vício

Essa semana resolvi fazer um experimento e me abster de usar uma substância que era parte da minha rotina. A cada manhã eu só acordava após tomar minha dose inicial. A substância, cafeína, presente no cafezinho diário, age no nosso corpo inibindo a recepção de adenosina, substância que nos leva a dormir. Assim ficamos mais despertos, alertas e prontos para o dia.

Semana passada observei que minha cafeteira estava esvaziando cada vez mais rápido. Chequei por vazamentos, mas concluí o óbvio: Eu estava tomando café demais, sem perceber. Acabava uma xícara e na próxima vez que levantava pegava outra. Sem exagero, eu devia estar tomando cerca de um litro e meio de café por dia. A princípio não senti nenhum problema em relação ao abuso de cafeína. Apenas curtia meus vários cafezinhos. Mas é certo que a longo prazo qualquer tipo de abuso é prejudicial.

Foi então que resolvi parar. E na segunda feira não tomei café. O dia correu bem, dormi mais cedo do que o habitual, e fora uma leve sensação de cabeça pesada, não senti mais nada. Na terça feira trabalhei bem, mas a noite minha esposa comentou que eu “estava com cara de derrotado”. Realmente me senti mais cansado que o de costume.

Sentir prazer ou aliviar a dor?

A questão então é: Eu tomo café para sentir o prazer do café, ou para evitar o sentimento de “derrota” quando não tomo? Quero o prazer ou fujo da dor?

O hábito ruim, chamado vício, surge do prazer que causa. Não adotaríamos uma hábito ruim se não houvesse prazer envolvido. Mesmo que em nossa consciência saibamos, e sejamos alertados o tempo todo, dos malefícios causados por determinadas atitudes e excessos, mantemos o hábito ruim, ou achamos que não temos forças para mudar.

Decidindo mudar

Da próxima vez que você repetir um hábito que faz parte da sua rotina, mas que você gostaria de mudar, observe com atenção e curiosidade o que está acontecendo naquele momento. Se você fuma, por exemplo, preste atenção ao sabor e ao cheiro da fumaça, ao toque do cigarro em sua mão, a sensação em seus pulmões e em seu cérebro, ao tempo dedicado ao ato de fumar… se você come em excesso, tente sentir o sabor verdadeiro da comida em sua boca, perceba a mastigação, como se sente depois? A barriga fica pesada e cheia? O que acontece com seu corpo?

Veja que o exemplo que eu mesmo segui foi de uma substância comum, aceita socialmente, e que movimenta a economia. O ato de tomar um cafezinho é até estimulado. Não há vergonha ou repreensão em agir assim. Mas eu notei, na minha rotina, que precisava mudar. Não vou abandonar o café, mas ressignificar nossa relação 😉

Essa dinâmica vale também para hábitos que não envolvem consumo, como o hábito de reclamar, de arrumar desculpas, de tratar mau as pessoas…

Preste atenção à sua vida e seus hábitos. Decida mudar. Seja feliz.

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